Antes do futebol, existe um mundo. Talvez 'o' mundo - mas me refiro aqui às experiências culturais que embalam nossas vidas, com as quais vamos aprendendo e encontrando lugares culturais e maneiras de viver. Deste ponto de vista, podemos dizer que existem vários mundos: subjetivos, culturais, sociais.
[A equipe brasileira Infantil, junto ao treinador Álvaro] |
Conviver intensamente com crianças e adultos, submetidos inequivocamente ao registro da fantasia própria do mundo do futebol (pais se tornam torcedores, às vezes repórteres; professores se tornam treinadores, massagistas, preparadores; crianças e adolescentes brincam de serem jogadores), aguça em mim a dimensão cultural que o esporte pode alcançar.
Tentar falar, aprender e escutar outra língua, embora importante, é apenas uma das janelas da comunicação. Comunicar é o que importa. Tenho a sorte de conseguir fazer isso em espanhol e inglês de maneira razoável, o suficiente para traduzir treinos para espanhóis, americanos, australianos, brasileiros. Mas a maneira como os jogadores se comunicam, para além da questão do idioma, é o suporte para todo o desenrolar das atividades.
Forçoso lembrar que quem não se comunica se trumbica, com aquele alô do velho guerreiro.
Pedir uma comida, uma informação, reclamar, agradecer - com os olhos, braços, gestos, sentimentos à flor da pele. Muitos meninos viajam com sonhos reais de um lugar ao sol e uma chance no país que tem dominado o cenário mundial. Na quadra, então, quando jogam em times misturados entre países, perdoem o clichê necessário - mas o idioma que vale é o da bola. Todo mundo sabe quando vacila ou quando manda bem.
É realmente interessante perceber que, para além das diferenças culturais e da competição, há algo na infância e na adolescência que os aproxima. Que faz com que, mesmo em meio a celulares, fones e games no hotel e nos ônibus, os façam ficar juntos. Em meio a pequenos dramas (machucados, broncas, bolsas de gelo, frustrações, contusões), cantam músicas, pregam peças com o idioma, inventam jogos com as mãos (desses que as fazem arder!), riem uns dos outros o tempo todo!
Que seria isso?
[Os treinadores espanhóis, Pep e Cani] |
Creio que se trata da curiosidade infanto-juvenil em descobrir o mundo. Para que consigam manejá-lo melhor dentro de si mesmos, e não se enganem: fazemos isso até o fim de nossas vidas. Quem desiste desta tarefa, infindável, normalmente perde o brilho nos olhos. Por mais que as experiências vão se acumulando, existe sempre algo a ser descoberto.
Aqui na pacata Blanes, cerca de hora e meia de Barcelona, para além do futsal, o que tenho visto de mais importante - e de mais belo - é a genuína vontade(pois que uma necessidade humana fundamental) de inventar a vida e fazer amigos.
[Com Xavi Closas e Oscar Alonso, profissionais do Barcelona] |
Se esta experiência não for possível, o futebol também perde o sentido. O futebol é um mundo dentro de outros mundos.
Falemos dele na próxima postagem, ao final das competições que estão programadas para domingo.
[No Camp Nou com Eduardo, João e Pedro] |
Um saludo desde España!